Fora duas semanas atribuladas.
Muitos nervos, preocupações, noites mal dormidas e a sensação de impotência.
A minha mãe diz que nada é por acaso.
Talvez tenha ido para estar mais tempo com a minha avó que luta pela vida.
Sim, luta. É uma lutadora e das grandes.
Há anos que vivemos a ouvir que ela vai durar pouco e ela contraria todas as probabilidades e saberes científicos, e cá tem andado. Teimosa até nisto.
Fui a neta que mais aproveitou, acompanhou e aprendeu com ela. Ela vive a minha vida sentada naquele cadeirão, agora cadeira de rodas, como se fosse a dela. Fica à espera de um telefonema meu todas as noites para saber as novidades.
Nada é por acaso, certo? Ficou viúva. Eu nasci. Tomou conta de mim. Terei sido um motivo para se agarrar à vida quando esta lhe virou as costas? Talvez.
Agora, numa instituição, porque não há meios para a poder ter em casa, resiste ao peso dos 87 anos e muitos problemas de saúde. Resiste.
Desta vez vejo a coisa muito feia. Muito feia mesmo. Vim a achar que a vou perder. Na verdade sempre que nos despedimos fico com a sensação que é a ultima vez que a vou ver.
Ela sofre e sofre toda a gente à volta dela. Eu sofro a e eventual morte dela desde que em lembro de ser gente. Estupido. Chorar por quem está vivo por se ter medo que morra.
Não há preparação possível. Não mesmo.