domingo, 4 de fevereiro de 2018

Será??



Hoje seria daqueles domingos em que já teria ligado à minha avó para lhe contar que ontem me deitei às 4h da manhã,  porque fui jantar ao restaurante italiano à borda do Senna.
Que de lá fui a casa de uns amigo e estive na conversa e que acabamos a fazer ginástica no chão a rir como uns tontos. Já em casa não tinha sono então fiquei a ler até as 5h. Hoje a Daisy às 10h deu sinal de vida, vesti-me, fui passea-la. Tomei pequeno almoço e fui às compras porque já não tinha mais leite de aveia nem fruta. Já passei a ferro e  agora estou sentada a ver o replay do the voice enquanto bebo um café delta. A água do Senna já está a descer. Já não tenho tanta água no jardim. A porta da garagem abriu esta noite então teve de lá ir o Steph de barco fechar, para não desaparecerem as coisas que estão a flutuar.

São 13h20 e já teria tanto para lhe contar. E ela ouviria. Ouviria. E ouviria. E semana após de semana, mês após mês, continuaria a ouvir estas descrições do meu dia que pouco interesse têm, mas que na minha voz ganhariam uma grandiosidade astronómica e lhe preencheriam uns minutos do tempo contado que tinha. Seria contado e recontado pormenor por pormenor a todos aqueles que lhe rendessem visita e, ou que lhe ligassem. 

Será que lá onde ela está vê o que se passa aqui em directo, ao vivo e a cores? 
Será que estaria orgulhosa?
Será que entretanto me perdoou por não ter estado presente nos últimos anos da vida dela?
Será que me perdoou por não ter ido mais vezes ve-la? 
Será que me perdoou pelas vezes que liguei por automatismo e que até nem prestei verdadeiramente atenção ao que me disse?
Será que me perdoou por tantas coisas que podiam ter sido ditas e não foram? 
Será? Sera? E tantos outros serás...


E eu daria tudo para me poder sentar agora no chão, pousar a cabeça no colo dela e lhe pedir para ver se eu tinha piolhos ou me fizesse uma trança só para que ela me mexesse na cabeça ou então para ir ter ao quarto dela e me deitar de manhã na cama com ela, e ficar ali no quentinho e falar de qualquer coisa ou apreciar aquele silêncio que dizia tanto. 



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