quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

-Porque choras? 
-Porque tenho saudades do avo António. 

Não o conhecia na verdade. Conhecia do que ouvia, do que imaginava. De fotografia. 

A avó Amélia conheci. E conheci muito bem. Muito de perto. 

Já tenho tantas saudades dela!!! 

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Devia ter aí os meus cinco ou talvez seis anos e a minha avó caiu. Caiu porque tropeçou à entrada do barracão da minha tia no sítio onde se encaixam no chão as tranças do portão. 
Lembro-me que caiu e ficou sentada no chão a rir a gargalhada, embora eu tenha ficado em pé a chorar. 
Perguntou-me porque chorava, e eu respondi que chorava porque a avo caiu. 
Sempre assim, com aquelas gargalhadas e com sentido de humor. Ria com facilidade e via tudo com positivismo. 

Sempre me lembro de a ter como um ser frágil, de vidro mesmo. 

Deambulava com as canadianas que mais tarde deram lugar ao andarilho e posteriormente à cadeira de rodas. 

Malditas pernas. Era mulher para ter feito kms se a tivessem deixado. 

Dizia que nos sonhos dela nunca tinha dores nem dificuldade a andar. Que se mexia bem. 

Espero que esteja ela onde estiver esteja a lavar roupa no rio, como fizera outrora  , ou talvez num baile a dançar uma "moda". 
Falo dela com naturalidade. Pelo menos tento. Fica sempre um vazio, mas sorrio porque penso que ela assim o iria desejar. 

As minhas conquistas eram partilhadas todos os dias. E agora penso que não as partilharei mais com ela. 


Recordo histórias e dizeres. 
Relembro na minha cabeça momentos nossos. Conversas nossas que mais ninguém sabia. Que agora, só mesmo na minha cabeça, nunca mais serão repetidas. 

Dou por mim a rezar, coisa que raramente fazia. Agora faz-me sentido, seja lá porque motivo for alivia-me fazê-lo. 

Não me sinto zangada com ninguém, nem mesmo com Deus que me levou a minha segunda mãe. Conforto-me na ideia que ele não a fez sofrer, que foi serena, como se estivesse a adormecer. 

sábado, 21 de fevereiro de 2015



São 18.20. 

Era a partir mais ou menos desta hora que o meu telefone tocava, como sinal que era a hora ideal para lhe ligar.

O telefone já não toca há 3 dias. 

Houve dias em que não liguei por algum motivo. Não foram muitos, mas existiram. Penso se terá ido chateada comigo e isso corroi-me. 





Já tenho tantas saudades...

Hoje liguei-lhe. Liguei porque lhe ia dizer que cheguei ao aeroporto e que estava à espera para fazer o check in. Mas foi ter à caixa postal e só aí percebi o meu engano. 

Não apaguei o número, não consegui. 

Tenho esperança que este vazio se preencha, que esta dor passe e que as minhas lágrimas sequem. 

Oh Pascoala... Como me chamava, faz-me tanta falta... 





terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Não há nada pior, nesta merda de estar longe, que saber que há alguém que não está bem, e ter de se ficar à espera de acontece alguma coisa ou não, esta indecisão do vou ou não vou. 

Será que se tivesse optado por ter ficado  seria diferente? 

"Gosto dos meus netos todos igual, mas tu tiveste um investimento diferente dos outros" disse-me da última vez que fui à casa. 

Preferia que não tivesse sido. Preferia ter sido mais distante. Agora era tudo diferente. Se calhar não sentia tanto este medo de a perder. 

Digo isto, mas é mentira. Não o sinto. 


E mãe, no dia em que fores tu, largo tudo e vou para aí.