As nossas mães são insuperáveis, infalíveis e invencíveis. As nossas mães são artistas de circo.
Com passes de mágica, são capazes de transformar trastes velhos em tesouros novos, sapatilhas rotas em sapatos de dança. Sabem truques de malabarismo para conseguir equilíbrios que ninguém sonhava. Com passes de alquimista, transformam as sobras do jantar em manjar celestial.
Sabem poções para curar males de amor e feridas nos joelhos, só com um beijinho e um sopro levezinho. Acendem o escuro sem precisar de botões. Cantam desafiando todos os papões e mais alguns perigos, sem microfone nem teleponto. São palhaços bons. Contorcionistas de movimentos precisos. Coreógrafas das nossas danças incipientes e desastradas.
Houdinis teletransportados que, num instante, estão em casa e no minuto a seguir nos esperam à porta da escola. Divas numa ribalta forrada de azulejos e de baton, salto alto e avental encostadas ao fogão de encastrar como se se preparassem para subir a um trampolim.
Rufem, tambores!, a minha mãe-maravilha está no seu camarim!
E se um dia não houver espectáculo?... Foi um avc. Ficou demente. Paralisou. Lentamente. Agonizante. Junto à cama uma cartola cheia das nossas lágrimas. E apesar de teimarmos - ”mas a minha mãe é invencível!” - o pó acumula-se sobre as lantejoulas.
As mães deveriam morrer com palmas. Ou desaparecer no apagar das luzes. Ou a colher flores no jardim.
Graça Rodrigues
Sem comentários:
Enviar um comentário